O que fazer primeiro, pagar as dívidas ou aplicar o dinheiro?

Pague as dívidas primeiros. Na verdade, essa afirmação se aplica quase que a todas as situações, com seletas exceções, mas se você estiver em dúvidas sobre o que é melhor, quite às dívidas.

Antes de entrarmos nas exceções, essa orientação geral se aplica porque o rendimento de suas aplicações com baixo risco raramente serão maiores que o custo do juros que você paga pela sua dívida. Isso ocorre pela dinâmica de risco que expliquei no artigo “O que você precisa saber sobre a SELIC“.

Para entender as exceções dessa regra, precisamos entender antes os tipos de dívidas que podemos ter:

Dívida Cara, Dívida Barata e Dívida Subsidiada

Para avaliar se uma dívida é cara ou barata, precisamos olhar apenas para o custo da dívida (juros), sem olhar pro tamanho da parcela ou do saldo devedor. Nessa escala, podemos dividir a dívida em três grandes blocos:

  1. Dívidas Subsidiadas: São todas as dívidas que possuem um custo efetivo menor que a SELIC Corrente. Isso ocorre com contratos pré-fixados ou financiamentos incentivados por algum programa do governo, como por exemplo, algumas classes de financiamento imobiliário. Outro exemplo, pode ocorrer de um empréstimo com taxa pré-fixada, ou seja, que não acompanha a SELIC, ter sido firmado a mais tempo e a Selic ter subido no período. A depender do quando a SELIC subiu há uma possibilidade dele estar subsidiado, neste caso, pelo próprio banco.
  2. Dívidas Baratas: São dívidas que embora não sejam subsidiadas, estão com seu custo “justo” à relação risco retorno. Por exemplo, uma dívida na Pessoa Jurídica de SELIC + 3% a.a pode ser considerada uma dívida barata, enquanto uma com SELIC + 8% a.a em um empréstimo para pessoa física também pode. Observe que não existe uma tabela que separe as dívidas baratas das caras, mas uma boa forma de avaliar é observar as modalidades de créditos disponíveis atualmente e entender onde sua dívida se enquadram.
  3. Dívidas Caras: Tal como as dívidas baratas, é difícil saber onde começa uma dívida cara, mas você terá certeza de algumas delas. Normalmente estas dívidas ignoram a SELIC como referência e praticam taxas que extrapolam os 10% a.m.. Exemplos clássicos são os agiotas que imprimem taxas arbitrárias ou, pior ainda, os bancos que extorquem através do rotativo do cartão de crédito, cheque especial e mesmo em empréstimos pessoais com taxas abusivas.

E agora, o que faço com esse entendimento?

Bem, se você leu com carinho, já sabe que para dívidas caras a regra geral se aplica. Pague-as. Eventualmente, até vale uma troca por uma dívida mais barata caso falte grana para quitá-la totalmente.

Para dívidas baratas, quase sempre também faz sentido quitá-las antes de começar a investir. A única exceção neste caso está na liquidez. Explico: Caso você quite esta dívida e precise fazê-la novamente em poucos meses, é preciso avaliar se os custos de IOF e taxas de contratos compensarão tê-la quitado antes. Se você já avalia a necessidade de refazer a dívida, é preciso fazer conta com carinho.

Dívidas subsidiadas são nossas exceções. Neste caso não faz sentido quitá-las. Mantenha o valor aplicado em um rendimento seguro e com boa liquidez e vá amortizando a dívida aos poucos. Desta forma você trabalhará com o spread a favor de você.

Dica Bônus

Independentemente do seu estilo de vida, ou ainda, se você sempre sentiu que nunca teve dinheiro pra nada, aproveite o fim de uma dívida para destinar o valor das parcelas para seus investimentos. Convenhamos se você conseguia pagar mensalmente sua dívida, porque não conseguirá, com o fim da dívida, aplicar mensalmente o mesmo valor?

Tá mas e se eu usar o dinheiro pra comprar ações ao invés de pagar uma dívida cara?

Se eu puder lhe dar um conselho, não faça isso. Ainda que o fizer, não avalie isso desta forma. Observe que quitar uma dívida lhe trará uma redução conhecida de juros equivalente a um pré-fixado, enquanto operar no mercado de ações com dinheiro de terceiros é se alavancar no variável, podendo aumentar sua exposição e sua dívida caso os papeis escolhidos não correspondam às suas expectativas. Não é uma comparação justa, os riscos não são equivalentes e, definitivamente, esta não é a melhor forma de começar a investir.