Moeda escritural e o Multiplicador monetário
Em algum momento da vida você já se perguntou o que aconteceria se todas as pessoas resolvessem sacar seu dinheiro ao mesmo tempo. Se não se perguntou ainda, antecipo a resposta: Faltaria grana. Simplesmente não há papel moeda ou lastro em ouro que cubra as quantias depositadas e aplicadas em todos os bancos do país.
_Espera, então tem gente inventando dinheiro? Porque se a Casa da moeda fabrica R$ 100,00 e os saldos das contas somam R$ 150,00 é porque em algum momento esses R$ 50,00 foram inventados…
Sim. Ou mais ou menos isso. Vamos pra um exemplo que vai ficar mais fácil de entender.
Uma vila do zero!
Imagine uma vila afastada de todo o mundo, onde vamos criar o primeiro sistema monetário dela e dos personagens que lá estão.
O primeiro personagem é o Sr. Vilmar, ele é dono de uma pequena fazenda nesta vila e produz tudo o que precisa para sobreviver ali mesmo. Ao Sr. Vilmar daremos R$ 1.000,00 em espécie.
O segundo personagem é o Aristides, ele acaba de chegar nessa vila sem nem saber direito de onde veio e sem nenhum bem ou dinheiro consigo. Como ele precisa se virar pra não morrer de fome, Aristides foi trabalhar na fazenda do Sr. Vilmar e receberá tudo o que precisa para viver e mais R$ 500,00 por mês.
Por fim nosso terceiro personagem, o Banco, que vamos chamar apenas de Banco. O Banco acabou de ser fundado nessa vila sem nenhum real em caixa. Ele apenas existe ali.
Tranquilo até aqui? Agora olha o que acontece depois de alguns movimentos:
O poder da multiplicação monetária!
a) O Sr. Vilmar deposita R$ 1.000,00 no banco.
b) O Aristides destrói um equipamento da fazenda do Sr. Vilmar e é obrigado a pagar. Como ele não tem dinheiro, se obrigada a tomar emprestado do Banco. O Banco empresta R$ 1.000,00 (aquele que o Sr. Vilmar depositou) para o Aristides, a ser devolvido em parcelas futuras.
c) O Aristides entrega estes R$ 1.000,00 para o Sr. Vilmar e quita a sua dívida.
d) O Sr. Vilmar deposita estes R$ 1.000,00 no Banco.
Observe que na nossa vila só existem R$ 1.000,00 em espécie e neste momento, o Sr. Vilmar possui um saldo de R$ 2.000,00 em sua conta corrente. Esse movimento se dá pela moeda escritural e pelo efeito conhecido como multiplicador monetário.
Observe que o Banco possui escriturado R$ 2.000,00 em depósitos e R$ 1.000,00 em saídas (empréstimo), logo, ainda possui a possibilidade de emprestar novamente os R$ 1.000,00 ( + 2.000,00 – 1.000,00 ) que estão em caixa.
Ainda neste exemplo, note que se repetirmos os itens b, c e d diversas vezes, o Sr. Vilmar poderia ter facilmente R$ 100.000,00 em sua conta corrente e na outra ponta o Aristides estaria devendo R$ 99.000,00 para o Banco.
Claro que este é um sistema financeiro com apenas três personagens e quebraria se o Sr. Vilmar resolvesse sacar R$ 5.000, por exemplo. Estes R$ 5.000,00 não existiriam fisicamente e o Banco não poderia honrar os depósitos a vista do Sr. Vilmar. E se o Aristides morresse?
O que acontece no nosso sistema financeiro real é exatamente a mesma coisa. São diversos Srs. Vilmares e Aristideres, as relações se multiplicam ainda mais e quanto maior o número de PIX, transferências entre contas, pagamentos de títulos, operação com cartão de crédito, menor é o risco de todo mundo sacar o dinheiro ao mesmo tempo.
Acho que entendi e estou com medo.
_Acho que entendi, mas isso não gera um risco gigantesco para o sistema financeiro e a economia de um país? O Banco pode fazer isso sem limite? Multiplicar por mil ou cem mil a quantidade de moeda existente? Então o Banco Central não tem controle sobre o volume de dinheiro circulando, seja ele de forma física ou escritural? E a inflação, onde entra nisso tudo!
Calma, apesar das aparências, nossa economia não é uma vila sem regras. Fique por perto que em um próximo artigo conversaremos sobre o controle que o Banco Central exerce sobre esta multiplicação através do depósito compulsório.
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